A GUERRA DE INDEPENDÊNCIA NA AMÉRICA ESPANHOLA (1780/1824) E A CRISE DO SISTEMA COLONIAL
O
processo de independência hispano-americano faz parte da crise do sistema
colonial (inserindo-se, portanto, na Era das Revoluções) e pode ser dividido em
três fases principais: os
movimentos precursores (1780 - 1810), as rebeliões fracassadas (1810 - 1816) e
as rebeliões vitoriosas (1817 - 1824).
Os movimentos precursores da guerra de independência: revoltas de Tupac Amaru e de Francisco Miranda:
Os
movimentos precursores, deflagrados prematuramente, foram severamente
reprimidos pelas autoridades metropolitanas. Ainda que derrotados, contribuíram
para enfraquecer a dominação colonial e amadurecer as condições para a guerra
de independência travada posteriormente. A mais importante dessas insurreições
iniciou-se no território peruano em 1780 e foi comandada por Tupac Amaru.
Depois
dos Estados Unidos, a segunda independência da América foi realizada pelos
escravos trabalhadores das plantations que, em 1793, através de uma insurreição
popular contra a elite branca libertaram o Haiti.
As rebeliões de independência fracassadas: a falta de apoio da Inglaterra e dos Estados Unidos:
Em 1808, a ascensão de José Bonaparte
ao trono da Espanha iria desencadear a guerra de independência na América
espanhola, devido aos desdobramentos políticos daquela situação.
O
fracasso das rebeliões iniciadas em 1810 foi consequência, em grande parte, da
falta de apoio da Inglaterra, que empenhada na luta contra a França
napoleônica, não pôde fornecer ajuda aos movimentos de independência liderados
pela aristocracia criolla.
Os
Estados Unidos, que possuíam acordos comerciais com a Junta de Sevillha, também
não forneceram qualquer ajuda aos rebeldes hispano-americanos. Em 1816, os
movimentos emancipacionistas, isolados internamente e sem apoio internacional,
foram momentaneamente vencidos pelas tropas espanholas.
A vitória do movimento de independência - apoio da Inglaterra e dos Estados Unidos e a doutrina Monroe:
Após
a derrota de Napoleão e 1815, a Inglaterra, liberta da ameaça francesa, passou
a apoia efetivamente as rebeliões de independência na América, que se
reiniciaram em 1817 e só terminariam em 1824 com a derrota dos espanhóis e a
emancipação de suas colônias americanas.
Naquele
ano, Simon Bolívar desencadeou a campanha militar que culminaria com a
libertação da Venezuela, da Colômbia e do Equador e, mais ao sul, José de San
Martín promovia a libertação da Argentina, do Chile e do Peru. Em 1822 os dois
libertadores encontraram-se em Guayaquil, no Equador, onde San Martín entregou
a Bolívar o comando supremo do exército de libertação.
O
processo de independência tornou-se irreversível quando, em 1823, os EUA
proclamaram a Doutrina Monroe, opondo-se a qualquer tentativa de intervenção
militar, imperialista ou colonizadora, da Santa Aliança, no continente
americano. Em 1824, os últimos remanescentes do exército espanhol foram
definitivamente derrotados pelo general Sucre, lugar-tenente de Bolivar, no
interior do Peru, na Batalha de Ayacucho.
Ao
norte, a independência do México fora realizada em 1822 pelo general Iturbide,
que se sagrou imperador sob o nome de Agustín I. Um ano depois, foi obrigado a
abdicar e, ao tentar retomar o poder, foi executado, adotando o país o regime
republicano.
AS CONSEQUÊNCIAS DA INDEPENDÊNCIA
Em
1826, Bolívar convocou os representantes dos países recém-independentes para
participarem da Conferência do Panamá, cujo objetivo era a criação de uma
confederação panamericana.
O sonho boliviano de unidade política chocou-se, entretanto, com
os interesses das oligarquias locais e com a oposição da Inglaterra e dos
Estados Unidos, a quem não interessavam países unidos e fortes. Após o fracasso da Conferência do Panamá, a
América Latina fragmentou-se politicamente em quase duas dezenas de pequenos
Estados soberanos, governados pelas aristocracias criollas.
Outros
fatores que interferiram nessa grande divisão política foram o isolamento
geográfico das diversas regiões, a compartimentação populacional, a divisão
administrativa colonial e a ausência de integração econômica do continente. O
panamericanismo foi vencido pela política do "divida e domine".
Assim,
entre as principais conseqüências do processo de emancipação da América
espanhola merecem destaque: a conquista da independência política, a
conseqüente divisão política e a persistência da dependência econômica dos
novos Estados.
O
processo de independência propiciou, sobretudo, a emancipação política, ou
seja, uma separação da metrópole através da quebra do pacto colonial. A
independência política não foi acompanhada de uma revolução social ou
econômica: as velhas estruturas herdadas do passado colonial sobreviveram à
guerra de independência e foram conservadas intactas pelos novos Estados
soberanos.
Assim,
a divisão política e a manutenção das estruturas coloniais contribuíram para
perpetuar a secular dependência econômica latino-americana, agora não mais em
relação à Espanha, mas em relação ao capitalismo industrial inglês.
As
jovens repúblicas latino-americanas, divididas e enfraquecidas, assumiram
novamente o duplo papel de fontes fornecedoras de matérias-primas essenciais
agora à expansão do industrialismo e de mercados consumidores para as
manufaturas produzidas pelo capitalismo inglês.
A CRISE DO SISTEMA COLONIAL:
Para que possamos entender a crise no sistema
colonial, precisamos retroceder no tempo, mais especificamente, aos séculos
XVII e XVIII, época em que ocorreram diversas revoluções, tanto na Europa, como na América
do Norte, assim como uma série de movimentos nativistas foi realizada na
colônia portuguesa.
Nesse período, a
Europa era marcada pela ascendência da burguesia ao poder, e vivia-se o Século
das Luzes, o Iluminismo burguês – filosofia cultuada pelo racionalismo, que
defendia a liberdade, a igualdade e a felicidade entre os homens, sendo assim,
contrário ao Antigo Regime. Esse pensamento iluminista contribuiu para que
houvesse a Revolução Industrial, a Revolução Americana e a Revolução Francesa.
A Revolução
Industrial ocorreu por volta de 1760, na Inglaterra, modificando totalmente as
relações econômicas, de modo que, os industriais desejassem o fim das colônias,
para que estas pudessem consumir os seus produtos, além de fornecerem
matérias-primas baratas, dando início ao capitalismo industrial.
Com a RevoluçãoAmericana no ano de 1770, as Treze Colônias inglesas tornam-se independentes, e
após longa guerra de independência
contra a Metrópole – Inglaterra –, os colonos ingleses, das colônias de
povoamento, declaram independência no ano de 1776.
Outra mudança
política ocorrida foi a Revolução Francesa, em 1789, caracterizada pela
ascensão da burguesia francesa ao poder, favorecendo definitivamente a quebra
do antigo sistema colonial.
Essas revoluções e
principalmente a independência dos Estados Unidos da América, assim como, as
ideias iluministas, foram fatores que repercutiram nas colônias portuguesas, e,
devido aos abusos do fiscalismo português nas regiões auríferas – regiões que
contém ouro – vários movimentos emancipacionistas foram realizados contra os
colonos portugueses.
Um dos principais
movimentos emancipacionistas foi a Inconfidência Mineira, em 1789, e que,
apesar de seu caráter idealista, foi a primeira rejeição ao sistema colonial
português. Outros importantes movimentos emancipacionistas foram a Conjuração Baiana ou dos Alfaiates, em 1798; e a Conspiração dos Suassunas, em 1801.
A crise no sistema
colonial decorreu pelo surgimento de novas ideias e pelas transformações
econômicas e sociais, além do próprio desenvolvimento das colônias – resultado
do investimento e das explorações realizadas pelos colonizadores –, gerando na
população colonial, o sentimento de emancipação.
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