EM CARACAS, MORRE AOS 58 ANOS, HUGO CHÁVEZ


Hugo Chávez Frias, 56º presidente da Venezuela, perdeu a luta que travava contra o câncer desde de 2011 e não resistiu no dia 04 de março de 2013. 



Apesar de todas as controvérsias em torno de sua figura, a América perde um grande líder que protagonizou a luta contra o imperialismo estadunidense na América Latina desde 1998.

Muito do que foi divulgado pela grande mídia não fez jus a sua trajetória, por isso cabe a cada professor de História desfazer certas falácias proclamadas tão repetidamente pelas globos e vejas da vida.


William Waack e seu discurso condizente com o que defendem as organizações "bobo", há
quase 90 anos, promovendo um verdadeiro desserviço ao acesso a informações no país.

Em 1992, o então tenente-coronel Hugo Chávez notabilizou-se pelo golpe de Estado que liderou contra o presidente Carlos Andrés Pérez, da Ação Democrática, partido que pouco a pouco foi abandonando a linha marxista para adotar a social democracia. 

O governo de Pérez não conseguia planificar a economia venezuelana e passava por grave crise econômica, que já havia culminado, em 1989, numa revolta espontânea, o Caracazo, quando, na capital venezuelana, a população protestou contra o aumento abusivo do preço das passagens de ônibus.



Apesar do golpe de Estado ter fracassado e de Chávez ter ficado encarcerado por dois anos, assim que foi anistiado, abandonou a carreira militar e passou a dedicar-se à política. Em 1997, funda o partido Movimiento V República (MVR) que, em 2006, une-se ao PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela).

Em 1999, Chávez lança-se candidato à presidência pelo MRV ao lado de uma coligação de esquerda e centro-esquerda - o Pólo Pariótico - e consegue eleger-se com 56% dos votos. É o fim da dominação de cerca de 40 anos imposta por partidos tradicionalmente elitistas na Venezuela.

Assim que chega ao poder, Hugo Chávez convoca um referendo para que a população seja consultada sobre a criação de uma nova Constituição. Cerca de 70% da população venezuelana aprova a Constituinte, cujo resultado é uma Carta que amplia os poderes do Executivo, através da extinção do bicameralismo (o Senado é extinto, e o país adota o unicameralismo),  e reconhece os direitos culturais das comunidades nativas.

Em razão da Constituição da República Bolivariana da Venezuela, novas eleições são convocadas, e o presidente se reelege, assumindo com maioria na Assembleia Nacional. isso permitiu que fosse aprovada a Ley Habilitante, que lhe permitia governar por decretos durante um ano.

Nesse período, o presidente lançou 49 decretos, sendo que os principais impuseram maior participação do Estado na extração de petróleo e a expropriação das terras dos latifundiários. Estas foram suficientes para que Chávez fosse acusado de querer transformar a Venezuela num país comunista pelos conservadores, já que seu mandato contemplava as demanda das classes oprimidas (trabalhadores rurais, grupos étnicos, etc.) por anos de política dedicados às elites. Latifundiários, empresários urbanos, Igreja e mídia privada encabeçaram as críticas a seu governo.



O ápice de oposição aos decretos chavistas se deu quando o presidente resolveu substituir gestores da Companhia de Petróleo da Venezuela (PDVSA) por pessoas de sua confiança, o que desencadeou uma onda de greves em solidariedade àqueles que tinham perdido seus cargos.

As leis extraordinárias começam a desagradar também a certos setores do Exército, o que faz Chávez perder parte do apoio.

O ano de 2002 guardava fortes emoções para Hugo Chávez. Face à agitação social, um golpe de Estado contra ele foi articulado pela alta hierarquia da Igreja Católica, por generais por empresários, e Pedro Carmona, líder conservador, assumiu a presidência interinamente até que fossem convocadas novas eleições. 



Há ainda evidências sobre o apoio norteamericano ao golpe contra o Chávez, uma vez que, semanas antes, diversos líderes golpistas tinham mantido contato com os Estados Unidos, apesar de ambos negarem a existência dessa articulação. 

Os levantes sociais agravaram-se: grupos de apoio ao presidente deposto sublevaram-se contra o golpe e clamando a volta de Chávez.

O governo golpista vigorou por apenas dois dias, até que setores do Exército ainda fiéis a Hugo Chávez organizaram um contragolpe que lhe devolveu a presidência. 

No mesmo ano, no dia 4 de junho, a Assembleia Geral da Organização dos Estados Unidos Americanos (OEA) condenou o golpe articulado contra Chávez no dia 11 de abril de 2002.

Mas isso não foi suficiente para suprimir a oposição ao presidente, e nos anos seguintes novas manifestações e greves contra seu governo levaram a Coordinadora Democrática (ONG antichavista) a recolher assinaturas para que novo referendo fosse organizado, para que a população se colocasse contra ou a favor da permanência de Hugo Chávez no poder.

A consulta popular ocorreu em 2004, e 58,25% da população mostrou-se a favor de que Chávez se mantivesse na chefia de Estado até o fim do mandato, previsto para 2 anos e meio. O resultado positivo a favor dele provocou questionamentos acerca da validade do referendo, que foi acusado de ter sido fraudado. Porém os observadores internacionais presentes durante todo o processo consideraram-no legal e dentro da normalidade. Dentre eles, estava o ex-presidente norteamericano Jimmy Carter que chegou a declarar que o processo eleitoral venezuelano seria o melhor do mundo.

No ano de 2005, o prestígio da Chávez cresceu ainda mais com a eleição de seu aliado na Bolívia, Evo Morales, e, em 2006, de Rafael Corrêa, no Equador, e de Daniel Ortega, na Nicarágua. A rejeição das elites a esses governos exaltou sua face mais preconceituosa, não somente chamando Chávez de tirano, negro, gorila e zambo (mestiço), como apelidando Evo Morales de índio ou colla.




Nas eleições seguintes, em 2006, Hugo Chávez foi reeleito com 62,9% dos votos para novo mandato de seis anos, e, mais uma vez com maioria na Assembleia Geral, recria a extinta Ley Habilitante que lhe conferia amplos poderes.


Hugo Chávez discursa na Assembleia Geral da ONU e chama diz que o diabo estava presente, já que podia sentir o cheiro de enxofre, fazendo alusão ao então presidente estadunidense George Bush que acabara de discursar.

Em 2007, Chávez convoca novo referendo sobre emendas à Constituição em que a população deveria abraçar ou rejeitar as mudanças propostas. Dessa vez, ele não saiu vitorioso, a população não aceitou o reformismo, e Chávez parabenizou seus opositores pela vitória nas urnas.

De 2008 a 2010, com a derrota na última consulta popular, Chávez poderia ter-se abatido, mas conseguiu vitória num novo plebiscito, podendo vir a se candidatar novamente à presidência em 2012. A doença, no entanto, não permitiu que o sonho bolivariano continuasse, e o eterno comandante deixou-se abater na carne, mas não nas ideias. 

Embora possamos identificar um pouco de teimosia no fato dele jamais ter designado um sucessor (a não ser quando entregou a espada de Bolívar, símbolo presidencial a Nicolás Maduro), de querer ter controle absoluto de tudo e de romper com ex-aliados, seu governo tem a cara do século XXI, quando as massas populares nativas e mestiças passam a conquistar inclusão econômica e protagonismo político, ameaçando o status quo das elites.

Seus esforços de integração econômica e de articulação ideológica contra o imperialismo ultrapassam fronteiras, tendo as esquerdas francesa e grega admitido influência chavista em suas ideias para o século XXI. Apesar de o bolivarianismo ainda estar longe do que Che Guevara, por exemplo, designava como socialismo, assim como outros líderes do passado, Chávez poderá influenciar positivamente as gerações futuras.

Que suas ideias não morram jamais.


Assistam ao excelente "A Revolução Não Será Televisionada" e tirem uas próprias conclusões.

Comentários

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...