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Descendentes de vítimas do nazismo repetem tatuagens de Auschwitz

Jovens israelenses dizem querer preservar memória de sobreviventes, mas historiador critica 'falta de reflexão'.

O israelense Doron Diamant, de 40 anos, gravou em seu braço
uma tatuagem com o número 157622 - a mesma tatuagem à qual seu pai, Yosef, foi submetido à força quando chegou ao campo de concentração de Auschwitz em 1942.


'Fiz essa tatuagem para expressar o quanto me identifico com meu pai e quero preservar sua memória', disse Diamant à BBC Brasil. 'E para que o Holocausto não seja esquecido.'


Diamant, que é marceneiro, diz que as pessoas que encontra no seu dia-a-dia sempre perguntam o que significa o número tatuado em seu braço.


'Pelo menos duas vezes por dia eu conto sobre meu pai e o que ele sofreu em Auschwitz, se não tivesse a tatuagem isso não aconteceria', disse.


'Além do número também gravei o desenho de um diamante, que representa o nome da nossa familia - Diamant', acrescentou.


História
O pai de Doron, Yosef Diamant, que nasceu na aldeia de Mishkov, na Polônia, tinha 16 anos quando foi preso e levado a Auschwitz - o maior campo de extermínio nazista.


Dos seis milhões de judeus que foram exterminados durante a Segunda Guerra Mundial, um milhão foram assassinados em Auschwitz.


'Desde que nasci minha vida foi sempre à sombra do Holocausto por causa da história do meu pai, ele foi o único que sobreviveu de toda a sua família, além de um primo distante', afirmou.


Quando Yosef Diamant foi libertado do campo de concentração, em 1945, ao final da guerra, ele procurou sua família porém não achou ninguém.


Em 1948 imigrou para Israel, onde se casou e teve cinco filhos e 22 netos.
Durante a maior parte de sua vida trabalhou como motorista de ambulância.
'Ele se orgulhava muito de ter ajudado no parto de 89 mulheres que levou na ambulância', acrescentou o filho.


Mais quatro membros da família Diamant fizeram a mesma tatuagem - a irmã de Doron e três de seus sobrinhos.


Outros jovens israelenses tomaram a mesma decisão, sem conhecer a família Diamant, e também movidos pelo desejo de homenagear seus avós e manter viva a memória do Holocausto.


'Falta de reflexão'
No entanto, para o historiador Avraham Milgram, a repetição da tatuagem de Auschwitz 'demonstra uma falta de reflexão'.


Milgram, que trabalha no Museu Yad Vashem, em Jerusalém, disse à BBC Brasil que, ao fazerem a tatuagem, a motivação desses jovens 'não é negativa, o jovem quer se identificar com o avô, mas acaba homenageando os nazistas e não o avô'.


De acordo com o historiador, a tatuagem dos prisioneiros em Auschwitz foi um ato de desumanização.


Cerca de 400 mil pessoas foram tatuadas com números ao passarem pela 'fila da seleção' no campo de concentração. Geralmente a tatuagem era executada em prisioneiros destinados a trabalhos forçados.


A grande maioria dos idosos e das crianças não foi tatuada. Essas pessoas, que não tinham condições de trabalhar, eram mandadas diretamente para as câmaras de gás, onde morriam asfixiadas.

'Por que não lembrar o avô como ser humano e não como número?', questiona Milgram, 'por que repetir o ato dos nazistas?'.


A tatuagem, por jovens judeus, com os números do campo de concentração é 'mais uma expressão do trauma que o povo judeu sofreu no Holocausto', afirmou.


Segundo Milgram, o Holocausto deixou um trauma psicológico profundo, que afeta não só a geração das pessoas que sofreram diretamente com o nazismo, mas também 'várias gerações de descendentes'.


'Nesse ato da tatuagem há uma certa ironia, uma ironia triste, existem tantas formas humanas de lembrar, adotar justamente um simbolo desumano é um absurdo', concluiu o historiador.

Retirado daqui

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