OUTRAS PANDEMIAS NA HISTÓRIA

Vivemos um período de reclusão e de quarentena, devido à pandemia do COVID-19, doença provocada pelo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2). 

No entanto, o que caracteriza uma pandemia? A palavra é de origem grega, cujo prefixo "pan" significa "tudo" e o sufixo "demos" remete a "povo", ou seja, atinge a todos em ampla escala e ao mesmo tempo. Assim, uma pandemia ocorre quando uma doença se espalha por uma grande região ou mesmo em escala global, simultaneamente. Apesar de nem toda doença ter a capacidade de causar uma pandemia, algumas podem resultar numa grande contaminação de pessoas, a partir do aumento do contágio sustentado. 

Na postagem de hoje, vamos falar de outras pandemias da História, em ordem cronológica. Antes de começar o assunto, gostaria de fazer um apelo para que a precaução predomine à histeria e para que a História, mais uma vez e como sempre, tenha uma lição a nos mostrar.


1. PESTE DE CIPRIANO - Século III

A praga de Cipriano foi uma pandemia de varíola ou sarampo que teria ocorrido de 240 a 270, no Império Romano do Oriente (Bizâncio), com capital em Constantinopla.

Seu nome deve-se ao escritor e clérigo de Cartago, no Norte da África, nascido Táscio e pagão. 

Nascido em família pagã, Cipriano converte-se quando adulto. Diz-se que, em sua juventude, ele dominava as ciências do oculto e era considerado mago.

Segundo relatos, por dia, cerca de 5 mil pessoas morriam na capital imperial, sendo a redução da densidade demográfica do império sua principal consequência. Isso, por sua vez, teria causado escassez de mão-de-obra para a produção de comida e para o exército, provocando a crise do século III.



2. PESTE NEGRA - Século XIV

Foi uma das mais devastadoras pandemias da História humana, resultando na morte de 75 a 200 milhões de pessoas e ceifando praticamente um terço da população europeia, entre 1343 e 1353. A população só retornou ao seu montante pré-peste no século XVII, e a peste só desapareceu no começo do século XIX.

Ficheiro:Bubonic plague map.PNG
Mapa que mostra a disseminação da peste bubônica na Europa de 1347 a 1351.

A peste negra era causada pela bactéria Yersina pestis, que era transmitida aos seres humanos por pulgas e ratos.

Look dos médicos que atuavam no combate à peste negra, colocando suas próprias vidas em risco, ao portar uma máscara supostamente protetora. A estaca serviria tanto para manter uma distância de cerca de 1,80 dos infectados, quanto para estourar os bubões.

Acredita-se que tenha se alastrado a partir da Ásia Central, devido às conquistas territoriais de Gêngis Khan, líder dos mongóis. A simultaneidade de ocorrência da peste negra na Europa, China e Oriente Médio deve-se à Rota da Seda, que aproximava as populações de todos territórios.


Gravura do movimento flagelante, cujos adeptos se impunham flagelos corporais e que surgiu em reação à peste.

Sobre a peste negra, o poeta Giovanni Bocaccio descrveu os sintomas que dariam origem ao termo peste bubônica :
"Apareciam, no começo, tanto em homens como nas mulheres, ou na virilha ou nas axilas, algumas inchações. Algumas destas cresciam como maçãs, outras como um ovo; cresciam umas mais, outras menos; chamava-as o povo de bubões. Em seguida o aspecto da doença começou a alterar-se; começou a colocar manchas de cor negra ou lívidas nos enfermos. Tais manchas estavam nos braços, nas coxas e em outros lugares do corpo. Em algumas pessoas as manchas apareciam grandes e esparsas; em outras eram pequenas e abundantes. E, do mesmo modo como, a princípio, o bubão fora e ainda era indício inevitável de morte, também as manchas passaram a ser mortais".
Peste bubônica – Wikipédia, a enciclopédia livre 

Ficheiro:Burning Jews.jpg
Na Europa medieval, os judeus eram bode expiatório de tudo e suas comunidades eram erradicadas com a brutalidade exposta pela gravura acima. Os flagelantes culpavam os judeus de serem os motivadores da pandemia de peste bubônica. Somente em 1349, o papa Clemente VI lançou uma bula, afirmando que os judeus não eram responsáveis pelo surto.  essa bila também proibiu o culto dos flagelantes.


3. CÓLERA - Século XIX

A pandemia de cólera originou-se na Índia e foi a pandemia que mais matou no século XIX, extirpando 200 mil vidas na Europa e cerca de um milhão, na Rússia. Trata-se de uma infecção no intestino delgado por vibriões, que pode causar diarreia, vômitos e cãibras musculares, ocasionando desidratação grave e distúrbio eletrolítico.


Um médico inglês identificou que uma das maiores causas de disseminação da doença era água e alimentos contaminados por fezes humanas, além de o marisco mal cozinhado ser seu maior vetor.

Cólera-morbo: contágio ou infecção? | História, Ciências, Saúde ...

Assim, seus fatores de risco eram a falta de saneamento básico, escassez de água potável e pobreza.

Ficheiro:Fedotov cholera.jpg

A vacina contra cólera é de via oral e garante seis meses de proteção.

Leitura no Vagão | O Amor Nos Tempos do Cólera
O escritor Gabriel García Márquez escreveu um romance que se passava durante o surto de cólera na Colômbia. 


4. PANDEMIAS DA GRIPE:

A maioria dos surtos de gripe atinge tanto jovens quanto mais velhos, cuja mortalidade é superior a do primeiro grupo, exceto caso os idosos já tenham desenvolvido imunidade ao vírus.


Diagrama temporal das gripes
Pandemias registradas de vírus humano da gripe, desde o fim do século XIX até 2010.

Para que um vírus zoonótico, ou seja, de incidência em animais, seja transmissível para humanos, ele deve ter sofrido uma mutação genética ou, então, ter-se recombinado com algum vírus humano. Nesse caso, a troca de material genético entre os dois vírus origina um novo, que causa uma pandemia.

A influenza pode ser dividida em três categorias: A, B e C. Ao subtipo A pretendem H1N1, H2N2 e H3N2.O tipo B tem originado pandemias mais ou menos extensas, enquanto o C relaciona-se a surtos localizados e esporádicos.

A cada pandemia, o subtipo do vírus que circulava antes desaparece. Assim, perecebe-se que aos surtos de 1918 a 1957 relacionavam-se ao H1N1, enquanto os de 1957 1968, ao tipo H2N2. Posteriormente, entre 1968 a 1977, predominou o subtipo H3N2, e, a partir de 1977, houve a volta do H1N1. Por isso, é comum que as pandemias sejam geracionais.


4.1. GRIPE ESPANHOLA - Início do século XX

Esta foi uma pandemia do vírus influenza, até então incomumente letal, que ocorreu de 1918 a 1920, no contexto da Primeira Guerra Mundial, chegando infectar cerca de meio bilhão de pessoas e a ceifar de 17 a 50 milhões de vidas no mundo todo (cerca um quarto da população mundial da época). 

Primeira Guerra Mundial - Só História
As trincheiras da Primeira Guerra Mundial.

Apesar de os vírus da gripe terem baixa letalidade, o alto  índice  da gripe espanhola entre os mais jovens deve-se aos danos que a doença causava no sistema imunológico dos adultos. Além disso, argumenta-se que aqueles de idade superior a 34 anos, já teriam tido contato com o vírus e desenvolvido imunidade, já que ele estaria circulando desde o final do século anterior.

Em 1918, gripe espanhola espalhou morte e pânico e gerou a semente ...

A fim de acalmar a população, os censores da Primeira Guerra Mundia minimizaram os efeitos da doença. Apenas na Espanha, que era neutra no conflito, a imprensa livre relatava os efeitos do surto, o que levou a pandemia a ser batizada de gripe espanhola. Na Espanha, tinha o nome de gripe francesa.

A desnutrição. a falta de higiene e a superlotação do contexto de guerra mundial causou a ocorrência de uma mega infecção bacteriana de alta mortalidade. Mulheres grávidas também eram mais propensas ao vírus.

Um artigo científico de 2009 sugere que uma das causas para a letalidade da doença era a alta dosagem prescrita para o tratamento.

Rodrigues Alves, que foi presidente do Brasil entre 1902 e 1906, morreu antes de ser empossado mais uma vez, em 1918.


4. 2. GRIPE ASIÁTICA (H2N2) - Século XX

Iniciou-se na China, entre 1956 e 1958, a partir de uma mutação em patos selvagens combinada com uma cepa humana pré-existente., vitimando cerca de 4 milhões de infectados. Foi provocada pelo vírus influenza A do subtipo H2N2.



Apesar de a vacina ter sido rapidamente formulada, a quantidade não foi suficiente para imunizar todos.



4.3. GRIPE DE HONG KONG (H3N2) - De 1968 a 1969

A gripe de Hong Kong levou a cerca de 2 milhões de mortes e consistiria num subgrupo do H3N2


4.4. GRIPE AVIÁRIA (H5N1) - 2005

Essa gripe foi causada pelo subtipo H5N1 do vírus Influenza, hospedado por aves e alguns mamíferos.


China reporta surto de gripe aviária e abate quase 18 mil animais ...

Foram cerca de 200 infectados e uma taxa de letalidade de 50%. Até o momento, a transmissão se dá das aves para os humanos, mas o principal desafio é impedir que, associado a um vírus humano, a H5N1 seja facilmente transmissível entre humanos.


4. 5. GRIPE A - 2009

A gripe A (H1N1) foi provocado por uma combinação entre vírus de origem suína, de aves e humana, sendo denominada gripe suína ou gripe mexicana.

Sua taxa de mortalidade foi enorme: cerca de 150 a 575 mil pessoas morreram, enquanto o número de infectados varia 770 milhões a 1,4 bilhão (de 11% a 21% da população mundial daquele momento).


5. SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (AIDS) - 

A Aids é uma doença que deprime o sistema imunológico humano e que é causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV, em sua sigla em inglês, human immunodeficiency virus).

O HIV teria surgido, inicialmente, na África durante o início do século XX, mas só foi observada clinicamente em 1981. O vírus tem origem primata e teria sido transferidos a humanos


Descoberto o vírus da Aids - ISTOÉ Independente

Os casos iniciais ocorriam em usuários de drogas injetáveis e homossexuais, o que gerou um estigma a essas populações que persiste até hoje e que muito colabora para a perseguição desses grupos. Os especialistas referiam-se ao chamado grupo de risco com 4H: haitianos, hemofílicos, homossexuais e heroína. No entanto, a Aids não estava restrita aos grupos citados acima.

Pode-se citar que o preconceito contra os portadores de HIV decorriam de três categorias: 1) receio contra uma doença mortal e transmissível; 2) associação dos infectados a um grupo de pessoas com comportamento promíscuo e degenerado; 3) estigmatização dos portadores. Isso causou um enorme prejuízo social, como se não bastassem os enormes desafios dos infectados. A homofobia cresceu muito por conta da correlação entre práticas homossexuais e o vírus.


Ficheiro:Therese-frare-david-kirby.jpg
A ativista pelos direitos LGBT e dos portadores do vírus da Aids, David Kirby, deu um rosto humano à pandemia.

As condições iniciais mais comuns são pneumocitoses, caquexia, candidíase esofágica, infecções respiratórias, além de infecções oportunistas causadas por bactérias, vírus, fungos que se alastram num organismo extremamente debilitado.

O HIV é transmitido por três vias principais: contato sexual, exposição a fluidos e a tecidos infectados e de mãe para filho, no momento do parto.


Com camisinha, tá protegido' vai para rua neste Carnaval | JORNAL ...

Desde sua descoberta até 2009, a Aids matou cerca de 30 milhões de pessoas, e passou a ser considerada uma pandemia.


Ficheiro:Cazuza flickr.jpg
No Brasil, o cantor e compositor Cazuza, uma das principais vozes da década de 1980, foi uma das primeiras vítimas da Aids.

Não existe, até hoje, cura para a Aids nem vacina disponível, mas os portadores da doença obtiveram uma expectativa e qualidade de vida muito superior, devido a coquetel, em 1996. O SUS brasileiro reuniu de três a cinco tipos de remédios que atuam como antirretrovirais, ou seja, inibem a replicação do vírus, numa medicação que também contou com a distribuição gratuita, tornando-se referência em todo o mundo.


Quais medicamentos compõem um coquetel contra Aids ...
Medicamentos que costumam compor um coquetel contra a Aids.




6. COVID-19 - 2019

Apesar de ter começado em Wuhan, na China, a doença alastrou-se rapidamente por todo mundo, o que fez com que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarasse o surto como uma pandemia, ocasionando 196 mil mortos até a data dessa publicação. Testes posteriores provaram que vírus estaria circulando há mais tempo e que Wuhan teria sido apenas o epicentro da pandemia.


Tire suas dúvidas sobre o novo coronavírus e a covid-19

Os pesquisadores avaliam que o coronavírus tenha origem zoonótica, quer dizer, de transmissão entre animais e seres vivos, já que a região chinesa é célebre pela venda de frutos do mar e também vendia animais vivos.


OMS diz que coronavírus já matou 1669 pessoas | Ciência e Saúde | G1


Desde sua primeira observação clínica, o coronavírus provocou a morte de cerca de 15 mil pessoas, demonstrando que é altamente contagiosa. A doença fica de 2 a 14 dias incubada e sua transmissão se dá por meio de contato próximo com infectados, o que levou grande parte dos governos a estabelecer isolamento social e quarentena a seus cidadãos.





Informativo Coronavírus: como se prevenir — Governo da Paraíba






















Comentários

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...