A ECONOMIA CAFEEIRA - EM CONSTRUÇÃO

O café foi o principal produto exportado pelo Brasil, desde meados do século XIX. Sua importância da agenda de exportações era tão grande, que seus produtores alcançaram não apenas expressão econômica como participação política.


"Café", de Cândido Portinari (1935)
Destaquemos algumas características e peculiaridades desse produto:
  • O café chegou ao Brasil contrabandeado da Guiana Francesa, à época de Dom João VI;
  • Concorrência perfeita - Há muitos produtores e muitos consumidores, o que produz tendência, a longo prazo, de lucro econômico igual a zero, já que o aumento da produção é cíclico e seus efeitos são sentidos a cada 7 anos - tempo entre semeadura e colheita (quanto mais produtores, menos lucro; quanto menos produtores, mais lucro);
  • Produto homogêneo;
  • Produtores são tomadores de preços;
  • Não há barreiras à entrada de novos produtores;
  • Elasticidade-preço da demanda baixa - O produto apresenta baixa sensibilidade a variações de preço; 
  • Não tem substitutos próximos; 
  • Elasticidade-renda da demanda baixa - Pesa pouco no orçamento; 
  • Demanda inelástica a preço - Se a oferta diminuir e o preço subir, a demanda não reage; por outro lado, se a oferta aumentar e o preço cair, a demanda não aumenta, nem se a renda mundial se elevar;
  • Brasil expandiu a produção muito rápido, o que viabilizou projetos de infraestrutura, urbanização e formação de mercado interno, mas tal crescimento tem um limite (é insustentável), por isso é importante diversificar;
  • Brasil exporta café, de elasticidade-renda da demanda baixa, e importa manufaturados, que possuem elasticidade-renda da demanda alta (se a renda sobe, sobre o consumo de manufaturas);
  • O século XIX foi palco do boom no consumo de café - Nas fábricas, oferecer café aos funcionários era um meio de aumentar sua produtividade (pelo mesmo motivo, o consumo de maconha foi desencorajado);

O período entre 1840 e 1865 foi de grande prosperidade econômica, devido a um sinal de estabilidade política, após o golpe de maioridade e consequente chegada de Pedro II ao poder. O incremento da produção de café e o aumento das tarifas sobre importações geraram divisas que proporcionaram a queda relativa da dívida externa.

Entre 1865 e 1889, por outro lado, a economia volta a se enfraquecer, provocando o aumento da dívida externa. Um dos maiores motivos para tanto foi a Guerra do Paraguai (1864/1870), quando o Brasil concentrou-se da aquisição de armamentos, deixando outros setores de lado.

Outro motivo para a piora na economia foi o descompasso entre os gastos públicos promovidos por Pedro II, para dirimir as críticas internas contra a guerra, e a arrecadação, que diminuíra, devido à baixa do preço do café no mercado internacional;

1984/1898 - Governo Prudente de Moraes:

A fim de reduzir os impactos da crise cíclica do café, a Lei Bancária de 1890 permite o "encilhamento", emissão de papel-moeda sem lastro em ouro. 

Os bancos imprimiam cédulas à custa de créditos industriais, na expectativa de que o fomento estimulasse a industrialização, o que não ocorre. De fato, diversas empresas-fantasma surgem.

Acreditava-se também que a inflação não seria tão nociva, pois enxergavam no fim da escravidão e nos imigrantes uma janela de oportunidade que reduziria seu impacto, fato que se frustrou, devido à falta de renda destes...

Assim, o "encilhamento foi um fracasso, já que a pressão inflacionária não foi contida pela pretensa janela de oportunidade nem pelo impulso à industrialização. Criou-se uma bola de neve: o emissionismo desvalorizava a moeda e gerava inflação, então o governo promovia gastos, para conter o impacto desses efeitos, aumentando ainda mais a dívida externa, num contexto em que, com moeda barata, tudo o que comprávamos de fora estava mais caro. Esse ciclo insustentável chega ao fim quando os credores param de dar empréstimos.

Para os cafeicultores, o cenário era ideal: se, por um lado, o produtor recebe menos libras, por outro, a desvalorização do mil-réis preserva seus ganhos. Além disso, as perdas do setor cafeeiro serão repassadas para a sociedade, constituindo a chamada socialização das perdas.

Esse patente favorecimento devia-se ao fato de o café ser a base do PIB (produto interno bruto) brasileiro. O PIB é formado pela soma do consumo das famílias, dos investimentos das empresas, dos gastos do governo e da exportações subtraídas das importações. Como a economia brasileira era pautada pela exportação de café, era este setor que financiava as demais variáveis do cálculo do PIB: sem os lucros provenientes do café, não haveria verba para gastos do governo, possibilidade de investimentos do governo nem estímulo ao consumo das famílias. Assim, havia total dependência da economia brasileira àquele setor.

GOVERNO CAMPOS SALLES (1898/1902):

Na virada do século, o Brasil garante seu primeiro funding-loan, um novo empréstimo de 10 milhões de libras, sob as seguintes parâmetros:

  • Aumento dos juros;
  • Suspensão do pagamento dos juros por 3 anos;
  • Suspensão das amortizações do principal da dívida por 13 anos;
  • Amortização da dívida entre 1911 e 1916;
  • Aumento de impostos;
  • Enxugamento monetário (1000 réis equivaleriam a 18 pence);
  • Corte de gastos;
  • Retração do crescimento;
  • Valorização cambial;
  • Alfândega da cidade do Rio de Janeiro como garantia.
GOVERNO RODRIGUES ALVES (1902/1910):
O funding-loan proporcionou um cenário bem mais confortável para o presidente Rodrigues Alves (1902/1910), que foi tão querido, que conseguiu se reeleger. O presidente construtor vivenciou a era de ouro da Primeira República, quando: o crescimento foi recuperado; a cidade do Rio passou por reforma urbanística e sanitária; e o Acre foi adquirido, por meio do Tratado de Petrópolis.


Em 1906, ocorreu o Convênio interestadual de Taubaté, entre Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. O excesso de oferta de café seria comprado por meio de empréstimos externos, haveria novos impostos sobre a exportação (a fim de coibir a entrada de novos produtores e evitar o colapso do sistema produtivo) e controle sobre novas produções. A federalização do café proporcionou o superávit do balanço de pagamentos e a formação de uma capacidade industrial ociosa, que viria a ser o motor do desenvolvimentismo brasileiro, após a Revolução de 1930.

GOVERNO HERMES DA FONSECA (1910/1914):

O cenário internacional era de profundo desequilíbrio, devido à Primeira Guerra Mundial. A queda das exportações de borracha e do preço do café levou à necessidade de um novo funding-loan, para a retomada da amortização da dívida externa, em 1911.

Em 1914, isso aconteceu, e o Brasil recebeu 15 milhões de libras a 5% de juros ao ano, com suspensão do pagamento por 3 anos, suspensão da amortização do principal por 13 anos e amortização prevista para entre 1927 e 1977.






Comentários

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...