AS OSCILAÇÕES NO VALOR DO PETRÓLEO E SEUS IMPACTOS PARA O BRASIL

Nas últimas décadas, além do valor estratégico dos recursos, outras variáveis começaram a se relacionar com a gestão energética: segurança de oferta competitiva; universalização do acesso; e proteção do meio ambiente. Percebemos, então, que a temática de energia está cada vez entrelaçada com aspectos do campo político, econômico, social e de meio ambiente, o que demonstra que a distribuição de recursos faz com que a energia seja alvo de disputas ou de cooperação.

No âmbito das disputas, percebe-se que os países desenvolvidos, principalmente do hemisfério Norte, são dependentes das fontes de hidrocarboneto dos países em desenvolvimento. Isso acaba fazendo com que estes tenham maior preponderância nos foros internacionais de gestão de energia, atentando para os prejuízos de uma matriz energética “suja” e para a importância de fontes alternativas de energia que sejam menos poluentes. No campo da cooperação, é patente que o mapa energético esteja se redesenhando, principalmente no que diz respeito à América Latina, onde uma série de acordos firmou a integração energética como condição para o desenvolvimento da região, tais como a hidrelétrica binacional de Itaipu e a construção do gasoduto Bolívia-Brasil.

Contudo, apesar de esforços para uma gestão de energia coerente com os novos tempos e com os postulados da economia, da política, da sociedade e do meio ambiente, o petróleo continua a ser o centro da matriz energética global. É importante notar que os países em desenvolvimento, principalmente a China, são os que mais têm utilizado o potencial energético do planeta, a fim de promover sua expansão industrial. A China, apesar de ser o quarto país em produção de petróleo, também é a maior importadora do produto, devido ao déficit energético causado pela sua enorme população e pela acelerada expansão de sua economia. Além do petróleo, a matriz energética chinesa concentra-se no carvão, que é muito poluente. Por isso, os chineses começaram a investir na limpeza de sua matriz e tornaram-se um grande mercado para energias limpas e renováveis, como a solar e a eólica. No entanto, apesar do incremento mundial na participação de fontes de energia renováveis, os combustíveis fósseis parecem ainda ser os protagonistas do mix energético global.

Desde 2008, o preço do barril de petróleo no mercado internacional tem sofrido constantes quedas, que podem ser explicadas pela alteração na gestão de recursos energéticos pelos estadunidenses, pela consequente retaliação à mesma perpetrada pelos países da OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo) e pela queda na demanda de Europa e Ásia pelo produto.

Inicialmente, com sucesso no desenvolvimento da técnica de fracking (fracionamento hidráulico) do xisto, os Estados Unidos galgaram nova posição geopolítica com relação ao petróleo, aumentando sua produção em 50% e vislumbrando a autossuficiência até 2030 (o que os faria importar menos o produto e ser, consequentemente, menos vulnerável às flutuações dos preços do produto). Tal fato levou à retaliação dos países da OPEP, que se recusaram a diminuir o ritmo de sua produção de petróleo e estaria, inclusive, disposta a preços ainda maiores, para que a produção dos concorrentes fosse inviabilizada (principalmente a dos EUA). Aliada à superprodução encabeçada pela OPEP e pelos Estados Unidos, um terceiro fator que colabora para o cenário de queda do preço dos barris de petróleo é a baixa demanda por petróleo na Europa e na Ásia. A crise econômica ainda não foi superada pelas grandes potências, e a desaceleração chinesa também causou impacto sobre a retração da demanda por petróleo.

Somada a esses três motivos listados, ainda podemos citar que a crise entre Rússia (grande produtora) e Crimeia e que a expansão do Estado Islâmico em regiões produtoras no Iraque e na Síria suscitam dúvidas quanto à produção nesses locais e fomentam a busca de outras fontes de energia.

As consequências das quedas do valor do barril de petróleo são variadas de acordo com o perfil dos países: enquanto os produtores (Irã, Venezuela e Rússia, por exemplo) são os mais afetados, pois o produto tem grande peso nas suas exportações; os países importadores (China e Filipinas, por exemplo) obtêm vantagens. Além disso, é importante citar que a arrecadação de royalties cai consideravelmente, constituindo um baque nas finanças de estados e municípios que dependem dela.

BIBLIOGRAFIA:

GOLDEMBERG, José et LUCON, Oswaldo. Energia e Meio Ambiente no Brasil. Revista Estudos Avançados/USP. São Paulo: v.21, n.59, p.7-20, jan-abr, 2007. SCIELO
SACHS, I. The Energetic Revolution of the XXI Century. Estudos Avançados, n.59, 2007.

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