O PAPEL DOS EUA NA PEB DO FINAL DA SEGUNDA GUERRA À PEI
O
contexto de política da boa vizinhança, empreendida por Franklin Delano
Roosevelt, entre 1933 e 1945, foi favorável à política externa do governo
Vargas de manter uma equidistância pragmática com relação a Estados Unidos e
Alemanha. O advento da Segunda Guerra, no entanto, rompeu tal lógica e forçou
um posicionamento do Brasil. Como o fechamento do partido nazista do Sul do
Brasil levou ao esfriamento da relação com a Alemanha e ao incremento da
parceria com os Estados Unidos, o Brasil opta por participar da Segunda Guerra,
vendendo borracha para os Estados Unidos, cedendo bases aéreas no Norte e
Nordeste e, finalmente, enviando tropas para o Norte da Itália.
Nesse
sentido, foram construídas excelentes relações com os Estados Unidos, o que
levou à crença brasileira numa aliança especial com a potência capitalista. Assim,
durante o governo Dutra, o Brasil passa a acompanhar as posições estadunidenses
nos foros internacionais, manifestando alinhamento ideológico. O país rompe
relações diplomáticas com a União Soviética, após atritos gerados pelo
fechamento do Partido Comunista Brasileiro (mesmo sob protesto dos próprios
Estados Unidos), assina o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca
(TIAR) e cria a Escola Superior de Guerra (ESG), responsável pela difusão da
Doutrina de Segurança Nacional que fundamentaria o golpe militar de 1964.
Apesar
do alinhamento ideológico no campo político, o governo Dutra adotou postura
demandante em assuntos econômicos. Por exemplo, o governo Dutra não seguiu os
Estados Unidos nas negociações do GATT e adotou medidas protecionistas, freando
as importações. Além disso, o então chanceler Raul Fernandes reconheceu o
equívoco de depositar tantas expectativas sobre Washington no famoso Memorando
da Frustração.
O
contexto internacional mudara. A construção da Guerra Fria fez com que os
Estados Unidos concentrassem sua atenção na Europa ocidental e dispensassem
pouca atenção à América Latina. Apesar de todos os esforços brasileiros, os
resultados são esparsos.
O
segundo governo Vargas, de 1951 a 1954, ocorreu durante o contexto
internacional de auge da Guerra Fria clássica. Mais uma vez, os esforços do
presidente em promover os interesses nacionais por meio da política externa,
foram frustrados.
Em
1953, a chegada do republicano Eisenhower ao poder e a sua extinção unilateral
da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, que visava a estudar os gargalos ao
desenvolvimento econômico do país, sepultaram de vez a pretensa relação
especial.
Durante
o mandato de Juscelino Kubitschek, entre 1956 e 1961, o contexto internacional
era de coexistência pacífica, no qual o eixo do conflito se deslocara para o
Terceiro Mundo e que estenderia até 1962. Nesse sentido, a política externa
brasileira apresentará avanços e recuos.
A
retomada relações diplomáticas com a União Soviética, o apoio brasileiro ao
movimento de descolonização, o rompimento com o Fundo Monetário Internacional
(FMI) e a Operação Panamericana (OPA) são traços de autonomia na política
externa. Esta, cujo principal argumento era o binômio segurança e
desenvolvimento e que defendia um “Plano Marshall” para a América Latina, foi
recebida com frieza pelos Estados Unidos.
Após
diversas tentativas de ocupar um lugar especial nas relações com os Estados
Unidos, Brasil muda de estratégia. A inflexão da política externa brasileira
ocorrerá a partir do governo Jânio, de janeiro a agosto de 1961, e terá
continuidade com João Goulart, de 1961 a 1964: é a Política Externa
Independente (PEI). Esta pode ser caracterizada pela busca dos seguintes
objetivos: pragmatismo com vistas ao interesse nacional; autonomia frente às
duas potências; multilateralismo; ampliação de mercados e de parcerias; e apoio
à descolonização. A PEI deixou um legado que até hoje tem influência na
política externa brasileira.
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