REFLEXÕES SOBRE O IMPERIALISMO



 Texto e imagem retirados daqui.


  Foi no século XIX que surgiram os termos “orientalismo” e “orientalistas” para designar os estudiosos que traduziam os textos orientais para Inglês e os próprios textos. A prática de tradução nesse momento da história europeia era motivada pela noção de que a conquista colonial necessitava de um conhecimento do povo conquistado. Daí resulta a ideia de conhecimento como factor de poder. Esta construção de discurso acabaria por ser questionada nos anos 70 do século XX.
            Abordar a temática do orientalismo é assumir a obrigatoriedade de falar de Edward Said e da sua publicação de 1978, Orientalism, Western Conceptions of the Orient.Esta foi uma obra que lançou a questionação da construção de imagens, estereótipos e dogmas relativos a realidades culturais outras, neste caso o Oriente.
            Edward Said defende que a visão do Oriente tem sido uma construção intelectual, literária e política do Ocidente como meio de este último ganhar autoridade e poder sobre o primeiro. Através da desconstrução de discursos, pensamentos e imagens produzidos ao longo dos últimos séculos, com incidência especial sobre a literatura europeia do século XIX, Said tenta provar que o Ocidente construiu a sua própria identidade por oposição à do Oriente. Ao longo desse processo identitário foi consolidada a ideia de que a diferença entre o Ocidente e o Oriente é a racionalidade, o desenvolvimento e a superioridade do primeiro. Ao segundo são-lhe atribuídas características como aberrante, subdesenvolvido e inferior.
            Todo esse sistema de representações do Oriente permitiu, com o peso real de uma autêntica estrutura sociopolítica, e legitimou a construção dos grandes impérios coloniais europeus. Em finais do século XIX, o oriental é visto como um problema a resolver ou como alguém necessitado de um poder superior. É quando a apropriação ou consciencialização europeia do Oriente passa de textual e teórica para económica e militar. A colonização tem no discurso orientalista todo um fundamento e justificação para as suas estratégias. Impérios como o francês ou o inglês beberam dessa fonte.
            A representação europeia do Oriente é uma formação, ou melhor, uma deformação, baseada na contemplação de uma vastíssima área geográfica a que nos habituámos a chamar de “este” e que comporta contextos culturais extremamente diferenciados da África do Norte, do Médio Oriente e da Ásia. Este tipo de generalização e de abstracção abortou possibilidades de conhecimento e de contacto directo com as realidades orientais modernas. Correspondendo o “este” abordado por Said ao Oriente islâmico ou árabe, o resultado da distorção foi a clara estigmatização dessas culturas, que são reduzidas ao estatuto de ameaças ao mundo ocidental. Confirma-se assim a teoria de Taylor de que uma deformação do reconhecimento do Outro pode ser uma forma de opressão.
            Muitos dos estigmas relativos ao mundo árabe e islâmico, estudados pelo autor, podem ser ainda hoje verificados na onda de reacções pós 11 de Setembro 2001, quer nas esferas políticas quer no mundo académico. Talvez seja essa a maior virtude e contribuição do trabalho intelectual de Edward Said: o de ter iniciado o debate sobre questões como as representações sociais, a visão do Outro e a alteridade, o pós-colonialismo e o de ter promovido uma revigoração desta discussão académica que se mantém até aos dias de hoje.

Comentários

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...