A CHINA MEDIEVAL
A China
atual é um país continental marcado pela diversidade cultural, étnica e
linguística. Um exemplo disso é chamarmos de língua chinesa o que, na verdade,
é o mandarim, um dos vários dialetos falados no país e cujo ensino é
obrigatório em todas as suas províncias.
Em Hong-kong, por exemplo, ex-possessão
britânica, recentemente reintegrada à República Popular da China, a língua
falada pelos habitantes é o cantonês, que é incompreensível para chineses de
outras regiões.
O turista estrangeiro que visitar os rincões
da China encontrará diversas minorias étnicas. Atualmente, o governo chinês
reconhece a existência de pouco mais de cinqüenta grupos. Entre eles, podemos
destacar as etnias hui e cazaque.
Por tudo isso, podemos concluir que não é
fácil para um governo (não importa qual seja o regime) manter a unidade
política em um território tão vasto quanto o da China. Nem hoje nem no passado
mais distante. Por outro lado, podemos perceber que tal unidade foi criada e
mantida muitas vezes com o uso da força bruta. E como veremos, na história
chinesa, tal unidade já foi destruída e reconstruída algumas vezes.
Tang Taizong, imperador
mestiço
O segundo imperador Tang era de origem
chinesa, por parte do pai, e turca, por parte da mãe. Esse fator contribuiu
para que a dinastia Tang fosse caracterizada pela mescla de elementos das duas
culturas e fosse mais aberta para inovações, rompendo com algumas das antigas
tradições chinesas.
Taizong incorporou várias tropas turcas ao
exército chinês, nomeando oficiais turcos e utilizou esse exército contra os
próprios reinos turcos. O império dos Tang era multicultural: além de turcos e
chineses, também abrigava comunidades de origens indiana, persa e árabe, entre
outras.
Reforma agrária e concursos públicos
Durante o reinado de Taizong, o governo tomou
medidas que contribuíram bastante para o desenvolvimento da China. Uma delas
foi a reforma agrária: o imperador desapropriou as terras que pertenciam aos seus
inimigos (era uma forma de evitar que os nobres se rebelassem contra o
imperador) e as dividiu entre os camponeses que nela trabalhavam (conquistando,
assim, apoio popular).
Para administrar o país, o imperador
precisava de funcionários públicos qualificados. Então ele instituiu concursos
públicos, nos quais os candidatos que apresentassem melhor desempenho nas
provas eram selecionados. O critério de seleção baseava-se apenas no desempenho
do candidato na prova, independente de sua origem social. Por isso, se diz que
a China do período era uma meritocracia, ou seja, um regime em que as pessoas
conquistam cargos com base no mérito e não por "apadrinhamento".
Fase de prosperidade
Durante a dinastia Tang, a China conheceu uma
fase de grande prosperidade e progresso técnico e material. Entre as inovações
que marcaram o período está o aparecimento do primeiro relógio mecânico, no ano
732, inventado por um monge budista chinês.
Outras invenções que marcaram o período foram
a bússola e a técnica de imprimir livros. Enquanto na Europa, nos mosteiros
católicos, os chamados monges copistas tinham que transcrever manualmente
livros antigos para se obter novas cópias, na China já era possível imprimir
vários exemplares de um mesmo livro.
Essa mesma técnica de impressão permitiu que
as provas para os concursos públicos chineses da época fossem impressas.
Durante a dinastia Tang, a China teve suas fronteiras ampliadas e o comércio se
expandiu. O período também foi marcado pela fundação de várias escolas de
medicina, não apenas na capital, Chang'an, mas também nas províncias.
Uma das conseqüências do desenvolvimento
econômico foi o extraordinário aumento da população, favorecido pela melhoria
nas condições de vida da maioria dos habitantes. Segundo o primeiro censo,
realizado em 754, a população da China já havia ultrapassado a faixa dos 50
milhões, um número excepcional para a época.
No entanto, essa prosperidade não durou para
sempre. O final da dinastia Tang foi conturbado, marcado por uma série de
crises. Durante o reinado de Taizong, os camponeses pagavam impostos em espécie
(entregando parte do arroz que plantavam) ou na forma de trabalho; mas, a
partir de 780, o governo passou a exigir que os impostos fossem pagos em
dinheiro. Tal exigência era impossível de ser cumprida pela maioria dos
camponeses e, por isso, muitos deles perderam suas terras.
Perseguição aos budistas
Outro problema que surgiu foi a escassez de
cobre e outros metais para cunhar moedas. Naquela época, o dinheiro era todo na
forma de metal. Falta de metal era igual a falta de dinheiro. O governo colocou
a culpa nos templos budistas que usavam bronze e outros metais para construir
seus sinos e estátuas.
Em meados do século 9, ele começou a
confiscar todos os objetos de metal dos templos budistas para derretê-los e
cunhar novas moedas. Outra medida foi baixar um decreto que acusava o budismo
de ser uma religião estrangeira (surgiu onde hoje é o Nepal), que estava
enfraquecendo o país.
O governo se apropriou das terras onde
estavam vários mosteiros budistas. Alguns foram destruídos enquanto outros
foram transformados em edifícios públicos. Devido à extensão da China, essas
medidas antibudistas só conseguiram ser cumpridas em algumas regiões. Nas
outras, eles continuaram praticando sua religião nos templos e mosteiros.
A decadência da dinastia
Tang
Outros
problemas assolaram o país: uma grande seca e uma praga de gafanhotos trouxeram
a fome e provocaram uma série de revoltas camponesas. Uma delas ocorreu no
século 9, quando vários camponeses famintos saquearam as duas capitais,
Chang'an e Luoyang. Apesar de derrotada, essa rebelião enfraqueceu o exército
chinês e contribuiu para o declínio da dinastia Tang.
A
partir do ano 902, teve início uma longa guerra civil que levou ao
esfacelamento do país em vários reinos menores. Em 906, o general Zhu Wen depôs
o último imperador Tang e deu início ao período das cinco dinastias, 907-960,
também conhecido como período dos dez reinos.
A
China voltou a ser reunificada somente a partir do ano 960. O responsável por
isto foi o general Zhao Kuangyin que deu início a uma nova dinastia - a dos
Song (960-1279). Os Song conseguiram reunificar a maior parte da China, exceto
a parte norte que estava sendo governada por um povo mongol. Durante esta
dinastia, a China se tornará pioneira no uso do papel-moeda e no da pólvora.
Mas essa já é uma outra história.
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